segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Market Look com Guilherme Dearo

Meu convidado desta semana é um Jornalista que navega pelo mundo do marketing.  Para ele, Ignorar o online ou tratá-lo como subproduto ou complemento da mídia impressa é erro fatal.

Guilherme Dearo já passou pelas redações de Folha, Guia do Estudante e VEJA. Hoje, escreve para Coluna Marketing da Exame.com. Confira!!!

Market Look com Guilherme Dearo

Blog do Fernando Coelho: Você possui experiência em mídia impressa e on line. Quais os pontos mais atraentes de cada plataforma? E se você tivesse de optar em atuar em apenas uma delas, qual seria?

Guilherme: Difícil escolher uma das duas plataformas. No online, trabalhei durante dois anos no Internet Núcleo Jovem da Editora Abril, fazendo coisas para os sites de Guia do Estudante e Aventuras na História; e agora, como editor-assistente do site da Exame, desde outubro de 2013. O que atrai no online é que ele é o presente e o futuro, simples. Ignorar o online ou tratá-lo como subproduto ou complemento do impresso é erro fatal. Vale pela dinâmica de escrever todo dia, rapidamente, e já pensar nas estratégias para ampliar a leitura: como e quando colocar nas redes sociais, como colocar na home etc. E tem uma proximidade maior com o público leitor, você recebe um feedback em tempo real quando analisa as métricas no Analytics ou os comentários nas redes sociais. É um termômetro bem dinâmico.

Já no impresso, trabalhei dois anos como repórter da Veja, além de trabalhos freelances de alguns meses no Guia da Folha e no Jornal da USP. É atraente pelo trabalho mais apurado e reflexivo. Você tem alguns dias para apurar e escrever (no caso da Veja, em média três, no máximo). É atraente por ver o processo de pensar uma revista do começo ao fim, da paginação à impressão, de interagir com várias áreas da redação ao longo do fechamento: pessoal da arte, da fotografia, da checagem, da revisão. Você sente um trabalho em equipe mais forte. Fora que é inegável o prazer de ver algo impresso, de ver a revista na banca, na sua mão. É o velho fetiche de se folhear um livro, uma revista. O apelo da materialidade.

Se fosse para escolher, escolheria o impresso. Talvez eu seja nostálgico. Mas não precisamos escolher, para falar a verdade. A realidade é que, cada vez mais, daqui em diante, todos trabalharão com tudo: redações integradas, online e impresso misturados. Essa fronteira vai sumir. As redações que não fizerem isso vão ficar para trás, certamente.

Blog do Fernando Coelho: Quando se fala em comunicação com o mercado, rapidamente se pensa em Publicidade e Propaganda. Costumo dizer que o Jornalismo cada vez mais se torna estratégico e com foco na colaboração para construção de grandes marcas.  Quais as perspectivas para o Jornalismo Estratégico em 2015?

Guilherme: As marcas, com a internet e as redes sociais, com o jornalismo online, perceberam que o Jornalismo é um ponto a ser levado em conta nas estratégias de comunicação. Uma notícia boa ou ruim vai afetar a marca. Os PR precisam estar a postos, assim como os assessores de imprensa e os gerenciadores de crise, no pior dos cenários.

A força do jornalismo ganha mais destaque com as redes sociais. Basta ver o caso recente da Diletto. Tudo começou por causa da matéria da revista Exame. Depois, com as matérias no site, que deram seguimento ao caso, a coisa foi ficando maior. Nas matérias que falaram sobre isso no site da Exame, foram centenas de comentários, que por aqui são feitos via Facebook, o sistema de comentários está integrado à rede social. Pois o perfil oficial da Diletto foi respondendo um por um. Quer dizer, a marca, percebendo a reação das pessoas, se preocupou em vir até nosso site, ver os comentários do Facebook e responder consumidor por consumidor.

Em outros tempos, de impresso, faria no máximo uma “Nota oficial”, que divulgaria para a imprensa. Mas os tempos são outros. Assim como os jornalistas, as marcas precisam estar respondendo leitores/consumidores, ouvir o que eles têm para dizer. Em resumo: o consumidor – que é também um leitor, um ouvinte, um telespectador etc – tem cada vez mais força.
Em 2015 essa integração redes sociais/jornalismo, claro, vai aumentar. As marcas deverão ficar de olho nisso.

Blog do Fernando Coelho: Recentemente em sua coluna no Portal Exame, você explanou que 56% dos brasileiros dizem que a internet impacta na hora de decidir alguma compra. As empresas exploram adequadamente essa plataforma? Qual sua sugestão para melhor aproveitamento desta mídia?

Guilherme: Nessa matéria usei uma pesquisa que mostrou que, mesmo que a pessoa vá à loja física comprar um produto, ela vai olhar a loja virtual da marca antes. Se o site é ruim, não dá acesso às informações de maneira adequada, o consumidor foge. É um perigo para uma empresa com uma bela loja no shopping, mas uma vida virtual desatualizada. Não sei dizer se a maioria das empresas está atenta às plataformas digitais já que não me deparei com nenhum estudo detalhado sobre. Mas chutaria que não. Basta ver como ainda há sites e lojas virtuais feios, desatualizados, mal desenhados. Basta ver, também, como muitas marcas ainda trabalham de maneira amadora nas redes sociais: com erros de português, poucas atualizações, discussões e grosserias com usuários, conteúdo impróprio para aquele perfil de rede/usuários. Muitas nem têm perfis oficiais em redes sociais ou divulgam seus sites de maneira clara. Parece que ficaram parados em 1995.

Minha sugestão para as marcas é básica e óbvia, já é dita há anos: presença profissional nas redes sociais (um site decente não é mais opção em pleno 2015). Um perfil simpático, com constantes atualizações, antenado, solícito.

Blog do Fernando Coelho: Diante da recente polêmica envolvendo as marcas Diletto e Do Bem, o que podemos tirar de lição sobre storytelling e simulacros na comunicação?

Guilherme: Eu diria para as marcas tomarem cuidado! Hehe Em época de redes sociais, qualquer “gafe” pode ganhar proporções desastrosas. A coisa ganha volume, cresce rapidamente, foge do controle, de repente são dezenas de milhares comentando aquilo – e muitas vezes xingando. Não acho que Diletto e Do Bem agiram de má fé em nenhum momento. Mas, quando o consumidor, por algum motivo, acha que está sendo enganado, não tem mais volta. Ele vai falar no Facebook, no Twitter... Acho que toda marca precisa valorizar a sua verdadeira história. Não precisa aumentar, fantasiar. Alguma coisa na história dela deve ser interessante. A realidade pode ser, muitas vezes, mais legal que a ficção. Quase sempre é, na verdade.

Entendo que as marcas busquem a todo custo, hoje em dia, se ligar aos conceitos do momento - eco-friendly, orgânico, familiar, socialmente engajado, até “fofo”- e nisso fantasiem alguma história... mas, se não há em sua história ou modo de agir coisas que se liguem a tais conceitos, então é hora, simplesmente, de começar a escrever uma nova história, agir de uma nova maneira, até que a realidade se encaixe naturalmente a eles. Quer parecer uma marca familiar? Então realmente trabalhe com pequenos produtores. Quer parecer socialmente responsável? Então seja socialmente responsável.

Blog do Fernando Coelho:  Em uma frase, qual seu Market Look? Qual sua visão de mundo e mercado?

Guilherme: Sempre penso que o ser humano deve ser o parâmetro de tudo. Em qualquer profissão, ele é o começo, meio e fim. Todo trabalho, comunicação e jornalismo aí incluídos, deve ser voltado para o aprimoramento humano e social, garantindo acesso aos direitos fundamentais e indissociáveis. Qualquer outro fim – dinheiro, fama etc – é secundário e pura consequência.


MINI BIO DE GUILHERME DEARO:

Formado em Jornalismo pela ECA-USP, é editor-assistente de Marketing de EXAME.com. Como jornalista desde 2009, já passou por Folha, Guia do Estudante e VEJA. Também segue carreira como escritor - como poeta e dramaturgo, já com livro publicado e peças encenadas nos últimos dois anos. Também já estudou Fotografia no Senac-SP.


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