Os profissionais de comunicação e marketing precisam ter como competência fundamental a visão global dos negócios e hoje não é mais possível executar marketing se desligado de um contexto sustentável.
Minha convidada deste MARKET LOOK é Especialista em Assessoria de Comunicação Corporativa e possui expertise em Responsabilidade Social já tendo atuado em empresas como Alumar, Organizações Sociais e hoje atua como Analista de Responsabilidade Social na Companhia Energética do Maranhão.
Aprecie sem moderação nosso bate-papo!!!
Market Look com Janaina Sousa
Blog do Fernando Coelho: Como as marcas encaram a responsabilidade social hoje no Brasil? A meu ver, existe muito amadorismo e pseudos posicionamentos! Qual sua visão sobre a prática da R.S em nosso país?
Janaina: Se fizermos uma linha do tempo percebemos que não há muito tempo as empresas existiam em função de lucros e resultados. Mas o mundo mudou e com ele novas necessidades de mercado surgiram. Aqui se manifesta a responsabilidade social empresarial, como resposta às pressões mais imediatas, oriunda dos empregados, seguida pela sociedade como um todo e pelo Estado.
Hoje, a empresa não se resume mais em resultados apenas. Sem as pessoas e os produtos vindos da natureza, seu sucesso não seria expressivo. E consequentemente seu produto não seria tão bem aceito. Não basta as empresas cumprirem aspectos legais é necessário o “PLUS”, não significando, somente, realizar ações sociais, distribuir cestas básicas ou mesmo jogar “derrames de dinheiro” em comunidades. Os compromissos éticos, valores e princípios compartilhados com seus diversos públicos de interesse (stakeholders) e a atuação de forma responsável e transparente, trazem para a empresa um reconhecimento especial, o qual pode se tornar um diferencial competitivo a ser incorporado à estratégia empresarial. Facilmente, encontramos pesquisas que indicam que consumidores do mundo contemporâneo dão preferência de consumo a produtos originários de empresas que tenham algum tipo de trabalho de responsabilidade social identificado em sua comunidade. Grandes empresas de olho nesses aspectos precisaram se reinventar e conhecer a temática. Deixo claro que a empresa não pratica ações socialmente responsável porque ela é “boazinha” e sim porque ela precisa minimizar ou eliminar os impactos que a sua atividade causa. Ganho de imagem e outros benefícios são consequências dessa gestão.
Blog do Fernando Coelho: e existem muitas marcas-vilãs que se dizem sustentáveis?
Janaina: Claro que dentro dessa linha do bem, existem os seus vilões. Muitas empresas se preocupam mais em demonstrar do que ser. Estão dispostas a ganhar essa fatia de mercado através da adoção da imagem ecologicamente correta, mas sem estruturar programas consistentes e reais. Ser sustentável leva tempo, um tempo que nem todas estão dispostas a esperar. No mundo de hoje muitos são sustentáveis sem mostrar efetivos resultados. E claro isso não se sustenta.
Nessa corrida para tentar associar suas marcas a uma imagem socialmente e ambientalmente correta, muitas empresas acabam escorregando. Um exemplo atual foi uma conhecida marca de palha de aço, que fez ampla divulgação na mídia que seu produto “é feito de aço e é muito mais higiênico. Depois que a senhora usa, ele enferruja, vira pó e some” , por essa característica se classificava como um produto 100% ecológico. Como ser 100% ecológico se você tem uma cadeia produtiva em cima desse produto? Ora para produzir aço é preciso extrair o minério e processa-lo em altas temperaturas, o que impacta com energia e matéria prima e sem contar com outros inúmeros fatores na fabricação e distribuição.
Esse é o caso que os americanos chamar de greenwash ou “maquiagem verde”. A empresa usa de artimanhas para iludir o consumidor com uma ideia falsa. Mas graças a Deus, o publico consumidor é muito mais esclarecido, comunidades locais são mais estruturadas e organizadas e cobram das empresas investimentos sociais. Assim, a iniciativa privada toma cada vez mais importância no desenvolvimento social do país.
Blog do Fernando Coelho: Qual o maior desafio das empresas para ajudar a alcançar um futuro sustentável?
Janaina: Nenhuma empresa se torna sustentável da noite para o dia. É preciso haver uma liderança sensível a essa gestão e principalmente a percepção de que ser sustentável é garantir a continuidade do negócio equilibrando os vários interesses. Hoje as empresas precisam da licença social para operar. E essa “obrigação” que o mundo contemporâneo nos traz pode e deve ser vantajoso para esse universo privado. Vamos alguns exemplos: utilizar equipamentos eficientes ajuda a economizar energia, a empresa não só contribui com a natureza, mas diminui despesa. Ao oferecer melhores condições e qualidade de vida a seus colaboradores, a empresa ganha em produtividade e assim vai.
Parece difícil começar ou decidir por onde começar. Nesses casos, sugiro procurar conhecer os indicadores de Responsabilidade Social Empresarial do Instituto Ethos. Os indicadores servem para orientar as empresas em um processo de autoavaliação e planejamento e contempla quesitos com relação a comunidade, meio ambiente, fornecedores, valores/transparência e público interno, entre outros. Uma outra dica é o dialogo com as organizações sociais. Elas são capazes de trazer um novo olhar e direcionar as empresas na melhor forma de conduzir seus investimentos sociais ou enriquecer o processo de iniciação da gestão sustentável. Um parto humano só ocorre em nove meses não importando quantas pessoas você coloque no projeto, assim é esse processo. Leva tempo e é preciso cumprir etapas para que tudo ocorra bem no momento desta criança nascer. O futuro precisa ser criado, não previsto.
Blog do Fernando Coelho: Que fatores devem ser levados em consideração pelos departamentos de marketing das empresas na hora de escolher um projeto social a ser beneficiado?
Janaina: Antes de selecionar projetos sociais, a empresa deverá definir qual sua estratégia com seu investimento social privado. Isso porque os projetos selecionados devem estar casados com sua estratégia de negócio. É factível uma empresa de leite trabalhar projetos de combate a fome ou empresas de fabricação de papel trabalhar projetos ambientais. O Investimento Social Privado, quando realizado de maneira estratégica é capaz de modificar a forma que a sociedade enxerga determinada empresa. E ainda mais, as empresas podem mudar a condição de vida das comunidades com quem atuar.
Minha indicação é: Converse! Focar em dado território e dialogar com demandas e ativos das localidades pode ser o caminho mais seguro. E não esqueça que o planejamento do investimento social é a melhor maneira de atuar. Alguns ingredientes que podem ajudar: visão de futuro, escolher foco de atuação, mensurar resultados, ter atuação estratégica, assegurar a continuidade do projeto, ser provocador de mudança.
Blog do Fernando Coelho: Em uma frase, qual seu market look? Qual sua visão em relação ao mundo, a vida e ao mercado de marketing e comunicação?
Janaina: Trabalhar com a temática de sustentabilidade é inspiração, é ser capaz de se adaptar rapidamente as mudanças que o processo traz por depender das relações que estabelece todos os dias. Se posicionar como comunicador nesse contexto é bem mais que transmitir informações é transformar realidades, se colocar no lugar do outro e ter a visão de que seu trabalho pode mudar a vida de muita gente. Nisso se reinventar todo dia não é opção é questão de sobrevivência. Martin Luther King define em uma frase simples e celebre: “Eu tenho um sonho”.
Mini-currículo:
Janaina Sousa é Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão e Pós- graduada em Assessoria de Comunicação Corporativa pela Faculdade São Luís. Teve inicio de sua experiência na área de Responsabilidade Social na Alumar, atuando com relacionamento com comunidades do entorno da empresa e no gerenciamento de projetos sociais. Logo após, pôde se aprimorar na área em uma Organização Social voltada pela temática, o Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão como Assessora de Comunicação para Sustentabilidade. Hoje atua na CEMAR, como Analista de Responsabilidade Social contribuindo na formação de uma concessionária de energia sustentável.