Meu convidado desta semana é um Jornalista que
navega pelo mundo do marketing. Para ele,
Ignorar o
online ou tratá-lo como subproduto ou complemento da mídia impressa é erro
fatal.
Guilherme
Dearo já passou pelas redações de Folha, Guia do Estudante e VEJA. Hoje,
escreve para Coluna Marketing da Exame.com. Confira!!!
Market
Look com Guilherme Dearo
Blog do Fernando Coelho: Você possui experiência em mídia impressa e on
line. Quais os pontos mais atraentes de cada plataforma? E se você tivesse de
optar em atuar em apenas uma delas, qual seria?
Guilherme: Difícil escolher uma das duas
plataformas. No online, trabalhei durante dois anos no Internet Núcleo Jovem da
Editora Abril, fazendo coisas para os sites de Guia do Estudante e Aventuras na
História; e agora, como editor-assistente do site da Exame, desde outubro de
2013. O que atrai no online é que ele é o presente e o futuro, simples. Ignorar
o online ou tratá-lo como subproduto ou complemento do impresso é erro fatal.
Vale pela dinâmica de escrever todo dia, rapidamente, e já pensar nas estratégias
para ampliar a leitura: como e quando colocar nas redes sociais, como colocar
na home etc. E tem uma proximidade
maior com o público leitor, você recebe um feedback em tempo real quando
analisa as métricas no Analytics ou os comentários nas redes sociais. É um
termômetro bem dinâmico.
Já no impresso, trabalhei dois anos como repórter
da Veja, além de trabalhos freelances
de alguns meses no Guia da Folha e no Jornal da USP. É atraente pelo trabalho
mais apurado e reflexivo. Você tem alguns dias para apurar e escrever (no caso
da Veja, em média três, no máximo). É atraente por ver o processo de pensar uma
revista do começo ao fim, da paginação à impressão, de interagir com várias
áreas da redação ao longo do fechamento: pessoal da arte, da fotografia, da
checagem, da revisão. Você sente um trabalho em equipe mais forte. Fora que é
inegável o prazer de ver algo impresso, de ver a revista na banca, na sua mão.
É o velho fetiche de se folhear um livro, uma revista. O apelo da
materialidade.
Se fosse para escolher, escolheria o impresso.
Talvez eu seja nostálgico. Mas não precisamos escolher, para falar a verdade. A
realidade é que, cada vez mais, daqui em diante, todos trabalharão com tudo:
redações integradas, online e impresso misturados. Essa fronteira vai sumir. As
redações que não fizerem isso vão ficar para trás, certamente.
Blog do Fernando Coelho: Quando se fala em comunicação com o mercado,
rapidamente se pensa em Publicidade e Propaganda. Costumo dizer que o
Jornalismo cada vez mais se torna estratégico e com foco na colaboração para
construção de grandes marcas. Quais as perspectivas para o Jornalismo
Estratégico em 2015?
Guilherme: As marcas, com a internet e as
redes sociais, com o jornalismo online, perceberam que o Jornalismo é um ponto
a ser levado em conta nas estratégias de comunicação. Uma notícia boa ou ruim
vai afetar a marca. Os PR precisam estar a postos, assim como os assessores de
imprensa e os gerenciadores de crise, no pior dos cenários.
A força do jornalismo ganha mais destaque com as
redes sociais. Basta ver o caso recente da Diletto. Tudo começou por causa da
matéria da revista Exame. Depois, com as matérias no site, que deram seguimento
ao caso, a coisa foi ficando maior. Nas matérias que falaram sobre isso no site
da Exame, foram centenas de comentários, que por aqui são feitos via Facebook,
o sistema de comentários está integrado à rede social. Pois o perfil oficial da
Diletto foi respondendo um por um. Quer dizer, a marca, percebendo a reação das
pessoas, se preocupou em vir até nosso site, ver os comentários do Facebook e
responder consumidor por consumidor.
Em outros tempos, de impresso, faria no máximo uma
“Nota oficial”, que divulgaria para a imprensa. Mas os tempos são outros. Assim
como os jornalistas, as marcas precisam estar respondendo
leitores/consumidores, ouvir o que eles têm para dizer. Em resumo: o consumidor
– que é também um leitor, um ouvinte, um telespectador etc – tem cada vez mais
força.
Em 2015 essa integração redes sociais/jornalismo,
claro, vai aumentar. As marcas deverão ficar de olho nisso.
Blog do Fernando Coelho: Recentemente em sua coluna no Portal Exame,
você explanou que 56% dos brasileiros dizem que a internet impacta na hora de
decidir alguma compra. As empresas exploram adequadamente essa plataforma? Qual
sua sugestão para melhor aproveitamento desta mídia?
Guilherme: Nessa
matéria usei uma pesquisa que mostrou que, mesmo que a pessoa vá à loja física
comprar um produto, ela vai olhar a loja virtual da marca antes. Se o site é
ruim, não dá acesso às informações de maneira adequada, o consumidor foge. É um
perigo para uma empresa com uma bela loja no shopping, mas uma vida virtual
desatualizada. Não sei dizer se a maioria das empresas está atenta às
plataformas digitais já que não me deparei com nenhum estudo detalhado sobre.
Mas chutaria que não. Basta ver como ainda há sites e lojas virtuais feios,
desatualizados, mal desenhados. Basta ver, também, como muitas marcas ainda
trabalham de maneira amadora nas redes sociais: com erros de português, poucas
atualizações, discussões e grosserias com usuários, conteúdo impróprio para
aquele perfil de rede/usuários. Muitas nem têm perfis oficiais em redes sociais
ou divulgam seus sites de maneira clara. Parece que ficaram parados em 1995.
Minha sugestão para as marcas é básica e óbvia, já
é dita há anos: presença profissional nas redes sociais (um site decente não é
mais opção em pleno 2015). Um perfil simpático, com constantes atualizações,
antenado, solícito.
Blog do Fernando Coelho: Diante da recente polêmica envolvendo as marcas
Diletto e Do Bem, o que podemos tirar de lição sobre storytelling e simulacros
na comunicação?
Guilherme: Eu diria para as marcas tomarem
cuidado! Hehe Em época de redes sociais, qualquer “gafe” pode ganhar proporções
desastrosas. A coisa ganha volume, cresce rapidamente, foge do controle, de
repente são dezenas de milhares comentando aquilo – e muitas vezes xingando.
Não acho que Diletto e Do Bem agiram de má fé em nenhum momento. Mas, quando o
consumidor, por algum motivo, acha que está sendo enganado, não tem mais volta.
Ele vai falar no Facebook, no Twitter... Acho que toda marca precisa valorizar
a sua verdadeira história. Não precisa aumentar, fantasiar. Alguma coisa na
história dela deve ser interessante. A realidade pode ser, muitas vezes, mais
legal que a ficção. Quase sempre é, na verdade.
Entendo que as marcas busquem a todo custo, hoje em
dia, se ligar aos conceitos do momento - eco-friendly, orgânico, familiar,
socialmente engajado, até “fofo”- e nisso fantasiem alguma história... mas, se
não há em sua história ou modo de agir coisas que se liguem a tais conceitos,
então é hora, simplesmente, de começar a escrever uma nova história, agir de
uma nova maneira, até que a realidade se encaixe naturalmente a eles. Quer
parecer uma marca familiar? Então realmente trabalhe com pequenos produtores.
Quer parecer socialmente responsável? Então seja socialmente responsável.
Blog do Fernando Coelho: Em uma frase, qual seu Market Look? Qual
sua visão de mundo e mercado?
Guilherme: Sempre penso que o ser humano deve
ser o parâmetro de tudo. Em qualquer profissão, ele é o começo, meio e fim.
Todo trabalho, comunicação e jornalismo aí incluídos, deve ser voltado para o
aprimoramento humano e social, garantindo acesso aos direitos fundamentais e
indissociáveis. Qualquer outro fim – dinheiro, fama etc – é secundário e pura
consequência.
MINI BIO
DE GUILHERME DEARO:
Formado
em Jornalismo pela ECA-USP, é editor-assistente de Marketing de EXAME.com. Como
jornalista desde 2009, já passou por Folha, Guia do Estudante e VEJA. Também
segue carreira como escritor - como poeta e dramaturgo, já com livro publicado
e peças encenadas nos últimos dois anos. Também já estudou Fotografia no
Senac-SP.