quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Market Look com Luiz Yassuda

Meu convidado de hoje trabalha com mídias digitais há 10 anos, com passagens por agências como Espalhe, Fischer, Riot e AG2 Publicis Modem. Com forte experiência no mercado, já atendeu clientes como Ambev, Samsung, Coca-Cola e Microsoft.

Confira minha conversa com Luiz Yassuda, fundador da Alma Beta, boutique de comunicação digital.

Market Look com Luiz Yassuda

Blog do Fernando Coelho: vamos começar falando de diferenciação de marca e produto. Hoje o Brasil está passando pela febre da gourmetização: a pipoca, a empada, o brigadeiro, tudo virou goumert e está mais caro. Qual sua opinião sobre essa estratégia de algumas marcas?

Luiz: Tudo o que é feito com exagero soa falso. Se toda a comida disponível de repente se tornar gourmet, então ela não será mais algo de destaque, certo? Faz sentido, já que a oferta de chocolate belga é menor do que a de comum, eu cobrar mais num produto que utilize tal matéria-prima, e faz sentido eu criar uma estratégia que justifique o preço sem precisar explicar economia. Em todo caso, seria ideal que todo esse discurso (ou storytelling) criado em torno do produto se sustentasse. Por exemplo: você confia que um determinado produto "gourmet" que tenha lojas em todos os shoppings e outros milhares de pontos de venda seja realmente um produto com matérias-primas raras e manufatura artesanal? 

Blog do Fernando Coelho: Hoje as marcas estão investindo mais em plataformas sociais digitais – praticamente todo budget contempla uma percentagem para o on. Como a marca consegue se tornar relevante no ambiente digital?

Luiz: O que é tornar-se relevante no ambiente digital? Seria estabelecer a página de Facebook com mais Likes? Ou seria transformar a Internet em seu canal de vendas mais lucrativo? Ou uma parte - importante, claro, mas parte - de uma complexa jornada de decisão, em que a marca teria conteúdo otimizado para buscas sobre o assunto? Tornar-se relevante no ambiente digital é o mesmo que tornar-se relevante em qualquer outro canal. As marcas, para conquistarem a tal relevância e pararem de torrar dinheiro em objetivos "wébicos" que não se sustentam deveriam se perguntar o que de fato elas precisam, o que seria tornar-se relevante para seu consumidor e se as diferentes ferramentas na Internet fazem sentido. E se fizerem, que o investimento seja feito de acordo com a necessidade, não com a campanha.

Blog do Fernando Coelho: Um dos princípios do marketing digital é a colaboração. Nossa sociedade é colaborativa por natureza, mas, as marcas estão explorando todo este potencial?  

Luiz: Você pode destacar um case ou outro, mas a impressão geral é que nenhum gerente de produto está disposto a realizar correções no que vende de acordo com o que o público oferece de insights. A parte boa é que isso abre espaço para iniciativas colaborativas diversas, financiadas por Kickstarter e similares. É pequeno ainda, mas é um cenário bem animador.

Blog do Fernando Coelho: Saindo um pouco da publicidade e misturando nosso bate papo com politica, você certa vez escreveu um texto falando que “grande mudanças não acontecem em um dia”. Em sua opinião, as pessoas estão mais criticas e com maior senso de responsabilidade social? Isso reflete nos hábitos de consumo? E como as marcas devem trabalhar neste cenário?

Luiz: Não tenho um pensamento tão otimista em relação às pessoas, de modo geral, terem maior consciência do que é ser cidadão. Este papel em relação à sociedade é muito confundido com o papel de consumidor. Se uma marca cria um selo "carbono zero", o consumidor tende a acreditar estar exercendo o seu papel de cidadão (reduzir as emissões de carbono para o futuro) consumindo, mesmo que seja consumindo gasolina (!!!). Se a iniciativa mexer diretamente no seu consumo, sai de baixo: aqui em São Paulo, vimos muita gente esclarecida vociferar barbaridades quando a prefeitura decidiu dar prioridade ao transporte público e às bicicletas, já que a iniciativa afetaria o trânsito dos automóveis. A grande mudança está acontecendo, mas ainda vai levar um tempo para que temas como consumo responsável de verdade e cidadania não soem como papo utópico de gente "meio-de-esquerda" como eu. As marcas trabalham nesse cenário da forma que deveriam trabalhar: vendendo comodidade e uma sensação de se estar fazendo "o bem". Deveriam fazer diferente? Serem mais responsáveis? Para fins de mercado, provavelmente não. 

Blog do Fernando Coelho: em uma frase, qual seu Market look? Qual sua visão do mundo e de mercado?

Luiz: Estou aberto às críticas e sugestões. Estou ainda mais aberto às mudanças e novidades. Espero que o mercado um dia esteja.

BIO


Luiz Yassuda trabalha com mídias digitais e sociais há 10 anos, com passagens pelas agências Espalhe, Fischer, Riot, Sinc Digital e AG2 Publicis Modem, e é fundador da Alma Beta, boutique de comunicação digital e produção de conteúdo, aberta em 2012. Neste tempo, atendeu clientes como Ambev, Samsung, Instituto Ayrton Senna, General Motors, Sanofi, LG Electronics, Coca-Cola e Microsoft. Formado em Comunicação Social pela ECA-USP, atua também como colaborador do Brainstorm9. 

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